domingo, 23 de maio de 2010

Mau de fumaça

Saí, como sempre, logo cedo. Alguns passos depois já avisto o mal do ar. Era apenas um pequeno foco de fumaça, aonde ontem tinham queimado o mato. Aquele cheiro ruim estofado meus pulmões. O fogo não é a solução para o mau do capim que teimoso continua a crescer independente de quantas vezes for carbonizado. O fogo é o que nos tira o pouco ar puro que ainda nos resta.

Semana passada houve um incêndio, da minha casa dava para ver a intensa nuvem de fumaça que denegria o ar. Naquele dia pensei que seria o fim do mundo, mas não, aquela nuvem escura não foi nada de mais. Não se ouviam comentários sobre o incêndio nos dias seguintes, ninguém saiu ferido, e a empresa tinha seguro e os bombeiros agiram bem. Nenhum mau há ninguém. E na realidade, depois disso o ar não ficou tão ruim quanto já era.

Enquanto ando, pelos mesmos trajetos que sempre faço, sempre vejo rastros do fogo. O fogo é um monstro devorador que aniquila tudo que encontra pela frente. Porem o fogo não faria nada sozinho, são os homens quem o controlam de maneira estúpida.

Havia fogo do lado de uma escola estadual e os alunos tiveram que ser dispensados das aulas porque ninguém conseguia estudar com aquela fumaça. Aquelas crianças foram prejudicas, mas não se importam com isso. Eu não sei se a culpa é do homem que colocou fogo no mato do terreno ao lado ou se é do capim que continua sua vida em seu ciclo quase natural

O fogo é um grande mau a todos. Um mau que age silenciosamente em nosso dia, mas sempre esta lá. Não sentimos esse mau, exceto quando sentimos a fumaça. Um dia nós iremos sentir de verdade o mau da fumaça e do fogo, e o temeremos como os primatas. Por enquanto ele ainda é um bem para humanidade se mantendo em pontas de cigarros.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Chiado matinal

A TV ligou, volume alto, chiado. De imediato ele acordou, pulou da cama e foi até a TV apertar o botão para diminuir o volume. Voltou à cama e sentou-se, ficou a olhar o tv. Passava o noticiário da manhã. Algumas notícias de ontem que ele já tinha visto. Violência na cidade, poluição no ar, corrupção na câmara. Nada de novo, um dia comum. Ele tinha sono, queria voltar a dormir. Resolveu levantar. O relógio marcava seis horas. Ele foi ao banheiro. Lavou o rosto. Olhou para o espelho, ficou a admirar aquele resto, parecia-lhe diferente. Analisou atentamente algumas marcas no rosto, os olhos cansados.

Trocou de roupa. Foi até a cozinha. Pegou um copo, colocou café. Pegou um pão na sacola que estava no armário. Inicial seu ritual matinal. Molhava o pão no café e o levava a boca, mordia-o com força e mastigava. Enquanto fazia isto maquinalmente, olhava pra cozinha. Aquele ambiente frio lhe agradava. Ao fim do primeiro pão, o copo ainda estava na metade, ele pegou outro. Continuou com o rito, enquanto pensava no dia anterior. Quando voltava da universidade, olhou para a janela do ônibus e viu uma garota parada no ponto que ele pensou ter conhecido. Tentou se recordar de onde conheceria aquela garota. Ao resto do caminho continuou a pensar nela. E naquele momento, continuamente, ainda pensava naquela garota. O segundo pão e o café acabaram. Ele lavou o copo, e bebeu água. Voltou a banheiro, escovou os dentes e se despediu do seu reflexo no espelho.

No seu pulso o relógio marcava seis e quarenta e cinco. Saiu andando. Na esquina, mendigou dormiam jogados no chão. Carros, bozinhas, o típico barulho com o qual já estava acostumado. Ainda pensava na garota que viu a noite passada. De súbito, se lembrou dela. Uma garota do tempo do ensino médio. Ela estava no primeiro e ele no segundo ano. Nunca haviam se falado, mas naquele tempo ele sempre admirava sua beleza enquanto ela conversava com amiga. Dentre essas, aquela era a única que o chamou a atenção, mas ele não tinha motivação nenhuma para falar-lhe qualquer coisa.Foi estranho para ele lembrar daquele tempo. Naquela época ele não gostava da sua vida, do mesmo modo que hoje não gosta, mas naquele momento ele se recordava com nostalgia daquele tempo. Pensou em não ter sido feliz quando pode, quando era mais fácil. Agora ele já havia desistido disso.

Ele chegou ao ponto de ônibus, e esperou seu ônibus. Naquele dia se sentia diferente, acordou mais disposto, e ao se lembrar daquela garota, se sentiu mais alegre. Tentou se lembrar de algumas pessoas da época do ensino médio que ele já não via há anos. Lembrou-se de algumas e ficou a pensar em como estariam àquela meia dúzia de pessoas pelas quais ele tinha afeição. Nunca mais teve noticia deles. Continuou a pensar na garota da noite passada. Pensou em como ele estaria. A conclusão que chegou foi que, seja como fosse, ela ainda estava lida.

Seu ônibus chegou. Ele logo se sentou. Olhou as pessoas que estavam naquele ônibus. Nenhum rosto conhecido. Ele olhou a janela, procurava alguém conhecido. Via pessoas apresadas, ocupadas, trabalhadores, gente como ele. Quando saiu do ônibus, não estava satisfeito, tinha esperança de ver aquela garota de novo pela janela. Andou até o trabalho. Trabalhou como sempre, um dia comum para aquela empresa. E neste dia ele saiu mais cedo.

Ao sair do trabalho, estava mais apresado. Foi rápido ao ponto e em pouco tempo pegou seu ônibus. Porem, dessa vez desceu num ponto novo, aquele em que ele na noite passado viu aquela garota que mudou seu dia. Ainda era claro, seis e meia da tarde. Ele se sentou e esperou durante uma hora, pensando na vida.

Então a garota da noite anterior apareceu, acompanhada de alguns amigos. Em alguns minutos, ônibus levaram os amigos daquela garota que ele já apreciava com antes, não, mais que antes. Ele tomou coragem e foi em direção dela. Tocou-lhe com dois dedos, com cuidado o ombro dela, e perguntou-lhe as horas, e em seguida iniciou conversa.A conversa se estendeu bem durante vinte minutos. Ao final dos quais, o ônibus dela chegou, e eles se despediram beijando-se as faces.
Ele estava completo de felicidade. Não se sentia tão bem fazia tempo. Voltou a sua casa andando, durante todo caminho pensando naquela garota. Tinha em si esperança. Chegou em casa e se jogou na cama. Por si só não dormiria, mas pela necessidade se rendeu ao cansaço. No dia seguinte a TV ligou novamente. Volume alto, chiado.

Como seria o dia passado se seus olhos não tivessem reparado nos detalhes, aqueles detalhes que fazem diferença, dia após dia, em nossa vida. E a parti daquele momento em que ele passou a reparar na vida a sua vida, portas se abriram. De fato sua vida havia mudado, mudado pra melhor.Na verdade não pensamos em tudo que perdemos e não enxergamos todos os dias, até um dia, pararmos para respirar e olhar ao redor. Aonde estão nossos horizontes quando somos egoístas e vivemos só no nosso mundinho.